terça-feira, 15 de abril de 2008

E que tal usar a nossa moda?


Eu sei que em todo lugar é assim, sempre temos um referêncial. Isso não só para moda, mas também na arquitetura, música, dramaturgia... enfim, mas a relação comercial entre o Ceará e a moda de (fora) está tomando caminhos retrógrados. Pois bem, vamos explicar:

Observo que a moda cearense vem trilhando por dois novos caminhos inversamente proporcionais, um é o da criatividade, que pode ser observado por "eventos" como Coletivo ou o respeitado Dragão Fashion , também por marcas genuinamente cearenses de criadores que saem das faculdades de moda e querem fazer produtos diferenciados e estilosos, como as marcas Arroz de festa, Inn, Lisblu, Rouge Carmim, Jô-Iola, Melca Janebro , Ruth Aragão, Coccinelle e outras. Esse caminho é algo surpreendente e que certamente trará bons frutos para a consciência de uma moda autêntica e muito comercial, sim!

Outro caminho que está bombando, digamos assim, é o das lojas multimarcas, que não é nenhuma novidade. O novo é a popularização desse estilo de loja, antes eram poucas, agora estão sendo "mania". Uma vez que é muito mais simples e garantia de um bom negócio montar uma loja e comprar produtos, com boa aceitação e qualidade em informação de moda, do que, fabricar. Tudo bem, não precisa fabricar, afinal é outra estrutura e nem todo mundo está disposto para essa jornada dura. Mas, por que só comprar de fora? Por que só Sampa, BH e Rio? Por que não marcas do Ceará também? Por que não temos esse mercado interno, de marcas ou estilistas que produzem para abastecer as multimarcas regionais?

Não é exagero, basta observar alguns locais como Monsenhor Tabosa e Shopping Aldeota. Procurem por lojas mais recentes, e você vai descobrir muitas multimarcas made Sampa. Tá, tudo bem, e qual o problema? Eu adoro as roupas de Sampa, adoro bater perna no Bom Retiro e fazer comprinhas, ou até mesmo aqui em Fortaleza comprar marcas de fora, eu compro mesmo, mas - entendam- não tenho nada contra as multimarcas, só acho que as lojas locais devem começar a observar os estilistas locais também, e abrir espaço para eles.

Algumas lojas de Fortaleza têm um preconceito com o made in Ceará, e não procuram pelo menos experimentar essa nova fase de talentos e marcas autorais. Conheço um exemplo de uma estilista que morou em Sampa bastante tempo e por isso ela conseguiu colocar seus produtos em algumas lojas renomadas de Fortaleza, assinando com seu nome e fabricando no ateliê em Fortaleza ela tem obtido uma excelente aceitação, ou seja, quem compra não procura a etiqueta para saber qual a origem do produto, pois o consumidor final procura um produto bonito, com qualidade e informação de moda e isso a moda cearense tem! Nesse caso, acho que as donas na loja não sabem que ela não é paulista, mas vejam só como é grande a falta de informação. Hellôôô! Nos temos moda sim!

E também não fico só na defesa dos criadores não, cabe aos novos estilistas criarem esse mercado. Tentem, seduzam e coloquem os seus produtos nas lojas sim. Tudo é um processo. Quem sabe isso possa mudar, não podemos querer somente o caminho da independência, quanto maior as parcerias, maior os resultados. Mas, atenção aos preços, também não vale querer colocar preços fora da realidade, tem estilista que acha que preço alto é resultado da valorização do seu produto e aí não vende nada, não adianta fazer bonito, tem que ser o pacote, pelo menos um preço justo. Também não vale querer ter o mesmo preço de marcas ultra conhecidas e que tem uma ultra estrutura que justifica os preços. Esse assunto vem dando o que falar (vejam no blog da Maria Prata o post "mundinho? eu vivo é num mundão")

E agora, toda vez que eu entrar em uma loja multimarcas vou perguntar: Tem roupa de algum estilista cearense, piauiense, soteropolitanos , potiguar... enfim! Vamos abrir o leque!

Foto: Caio Ferreira para Lindebergue Fernandes.

Abaixo o estrelismo!


O profissional de moda tem uma certa fama de ser estrela. As vezes, é reflexo da imagem de falso glamour que esse mundo ostenta ou por todo o universo mágico e fantasioso que a moda oferece.

Há também casos de pessoas que criam uma barreira por conta da insegurança profissional. O estrelismo exacerbado é uma maneira de espantar quem está muito perto dos seus segredos.

A verdade é que o perfil desse profissional cheio de vontades e imposições, meio que estrela de rock já não tem mais lugar no mercado.

Saem os temperamentais e entram os criadores, sempre empreendedores e com uma inteligência emocional super equilibrada.

Ultimamente por conta do meu trabalho, tive a oportunidade de conhecer algumas personalidades da moda brasileira, e constatei que quanto maior é a "fama" do profissional, maior é a simplicidade desses que obtem sucesso e reconhecimento. Salvo as exceções é claro!

São pessoas que tem um conhecimento e uma segurança que permitem a elas sempre o fato de ser "desmontados" e despretenciosos. É... quantas pessoas que se montam para criar falsos personagens, são as "celebridades" da moda, que habitam o falso planeta do mundo fashion e glamoroso da moda.

O mais bacana é ficar boquiaberto com a simplicidade de Ronaldo Fraga que faz a cada momento ao seu lado parecer uma aula, pois ele instiga e reforça que a moda e arte não são primas, nem irmãs, são a mesma coisa, mas sem esquecer o lado comercial, que é fundamental e que o mesmo sabe direcionar em sua marca muito bem obrigado.

E Thaís Losso que é super acessível e responde a cada pergunta no seu blog, e-mails e as vezes até orkut... e olha que são milhares de "curiosos" da moda, (responda sinceramente se você iria se dar a esse trabalho?)



E Karlla Girotto que em meio a uma palestra alguém lhe fez uma pergunta sobre sua inspiração para uma coleção e ela humildimente responde: Eu não sei... nem me lembro... se bem que pensando assim... você pode ter razão. (se fosse uma fashion glamour nunca ia dizar a palavra não sei... pois é feio não saber, um fashionglamour sempre sabe tudo).

Agora me surpreendo mais ainda, ao conhecer uma pessoa que não é Prata, é ouro!

A editora da revista ban-ban-ban de moda brasileira, Vogue, fez uma palestra deliciosa em Fortaleza, de uma maneira super sutil deu o seu recado e arrasou. E ainda escreve em seu blog que estava nervosa e que ficou super feliz por palestrar para mais de 400 pessoas... se fosse uma fashionglamour iria fazer caras e bocas, pois nunca ia adimitir que isso é algo novo. E ainda de quebra foi super hiper simpática e ficou todo interessada em acompanhar o evento da Vicunha após a sua palestra e conhecer um pouco algumas pessoas que fazem moda em Fortaleza e ainda de quebra faz elogios no seu blog ultra respeitado sobre uma marca infantil aqui da terrinha.

Ou seja, glamuroso é quem trabalha muito e tem talento e competência. Isso é ser estrela e não ser o ultra inacessível


e distribuir chiliques e caras e bocas para parecer fashion.